A grande maioria das pessoas no planeta têm a sensação de que estamos caminhando para o “fim do mundo”. Pesquisas recentes revelam que na Suécia, somente 10% acham que a vida está melhorando. Nos EUA, são apenas 6%, e na Alemanha 4%. Muito poucas pessoas pensam que o mundo está ficando melhor. Mas, afinal, o mundo em que vivemos está pior ou não?
Se nos balizarmos por dados oficiais, em todas as áreas e todos os setores, a resposta é um enfático “não”. Ainda há guerra, fome, doença e pobreza no mundo, mas as coisas estão bem melhores do
que algumas décadas atrás. Mesmo com conflitos no Iraque, Síria, Iêmen, Afeganistão, dentre outros, o número de mortos em guerras está caindo a cada ano. Estamos vivendo na época mais pacífica da história da humanidade. A porcentagem de pessoas mortas por casos de violência também é a menor da história. Cerca de 10 mil pessoas morrem por ano em atentados terroristas, enquanto 1 milhão de pessoas se suicidam. O medo supera a realidade.
Seguem alguns dados para ilustrar. A expectativa de vida tem aumentado. Há apenas 50 anos, as pessoas viviam em média 60 anos. Hoje, homens vivem em média 70 anos e mulheres 75, e a expectativa de vida está crescendo a cada ano, em todas as regiões do planeta, não apenas em países desenvolvidos. A taxa de mortalidade infantil diminuiu drasticamente (em 1960, era de 20%, hoje é menos de 5%). São 6 milhões de vidas salvas todo o ano por vacinas, incentivo ao aleitamento materno, remédios para pneumonia e tratamentos contra diarreia.
Cinquenta anos atrás, o número de bebês nascidos para cada mulher era de em média 5. Hoje, esse número caiu pela metade, graças ao maior acesso de mulheres à educação e a métodos contraceptivos. A população ainda vai aumentar por causa da expectativa de vida maior, mas o crescimento está desacelerando cada dia mais.
A pobreza extrema está diminuindo. Desde a década de 1980, o número de pessoas vivendo em condição de pobreza extrema caiu pela metade. Hoje, 790 milhões de pessoas ainda vivem em insegurança alimentar, mas esse número deve cair consideravelmente até 2030. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável assinados por todos os 192 países da ONU têm como objetivo erradicar a pobreza extrema até 2030, e os especialistas acreditam que seja possível algo bem perto disso. Assim, ainda na nossa geração, temos a chance de eliminarmos os principais males que sempre assombraram a humanidade, do analfabetismo à miséria extrema.
O continente africano tem demonstrado grandes avanços. Entre as 10 economias que mais crescem no mundo, sete estão na África. Um estudo do Banco Africano de Desenvolvimento projeta que, em 2030, a maior parte da população africana será de classe média. Além disso, a porcentagem de crianças nas escolas na África em 1970 era de apenas 40%, enquanto hoje é de aproximadamente 80%.
Nenhuma das realizações dos últimos dois séculos poderia ter sido alcançada sem a expansão do conhecimento e da educação. A revolução de como vivemos não foi apenas impulsionada pela educação, mas também tornou a educação e o conhecimento mais importantes do que nunca. No passado, apenas uma pequena elite era capaz de ler e escrever. A educação é uma conquista muito recente. Em 1820, apenas uma pessoa em cada 10 era letrada. Em 1930, era uma em cada três, e agora estamos em 85% globalmente.
Mas, por que é importante que saibamos essas coisas? É imprescindível levantar esses dados, diante de uma certa apatia que tomou conta das pessoas no planeta a partir dos últimos anos, com notícias diárias de guerras, líderes caricatos, terrorismo, atos de ódio e violência. Caso contrário, podem vir a enxergar os problemas como sem solução e desistir de continuar na luta, exatamente no momento em que estamos obtendo os maiores avanços já observados.
Mas, por que as pessoas têm a sensação de que o mundo está piorando? Na medida em que os meios de comunicação vão se disseminando, todos ficamos sabendo de fatos que, até pouco tempo, dificilmente teríamos conhecimento. Costumamos interpretar as notícias ruins que viralizam nas redes sociais como prova de que o mundo está piorando. E, por meio do medo somos controlados e inclinados a optar pelo conservadorismo. Medo de continuar avançando, medo do novo.
Ao contrário do que é disseminado, estamos vencendo o jogo. Hoje estamos mais esclarecidos e sensibilizados. Hoje há mais luz e conhecimento. A transformação bem-sucedida de nossas condições de vida só foi possível por causa da cooperação. Tal transformação foi trabalho incessante de equipe. Ainda há muito a conquistar, e essa conquista somente será possível com a união de esforços, comunidades, populações, em busca de um bem estar social e colaborativo cada vez mais sólido.
Uma frase do escritor russo Fiódor Dostoiévski, em sua obra “O Idiota”, serve-nos de alento: “quando temos o sentimento que tudo vai mal ao nosso redor é hora de exaltar a beleza que há no planeta e no ser humano que o habita. A beleza salvará o mundo”. A palavra beleza tem sua origem no sânscrito Bet-El-Za que quer dizer: “o lugar onde Deus brilha”. Por isso, é importante exaltar os avanços e a beleza das conquistas realizadas por todos ao longo da história. Temos que acreditar que um dia a flor vencerá o asfalto. Como dizia Drummond, “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”