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JOSÉ LUIZ OREIRO

O motor do crescimento (Diário de Comércio e Indústria, 04/12/2017)


Qual o ritmo de avanço que a economia brasileira sustentará daqui para frente?

A economia brasileira deverá fechar 2017 com crescimento abaixo de 1%, resultante dos efeitos combinados da liberação dos depósitos inativos do FGTS, da redução da taxa de juros e do forte crescimento das exportações, tanto de produtos básicos como de manufaturados, em função da aceleração da economia mundial. Considerando a queda acumulada de quase 9% do PIB real no período 2014-2016, trata-se de uma recuperação anêmica, ainda que bem-vinda.

A pergunta que se coloca a partir de agora é qual o ritmo de crescimento que a economia brasileira pode sustentar no médio e no longo prazo? Essa pergunta é essencial para a projeção sobre a trajetória de contas públicas, bem como para o desenho de políticas capazes de lidar com problemas estruturais da sociedade brasileira na educação, saúde e infraestrutura. A teoria econômica indica que o avanço potencial de uma economia no longo prazo é igual a soma entre a taxa de crescimento da força de trabalho e a taxa de crescimento da produtividade. A primeira depende do avanço da população e da taxa de participação, ou seja, do aumento da razão entre a força de trabalho e a população. Em função da queda tendencial da taxa de fecundidade derivada do processo acelerado de urbanização da economia brasileira nos últimos 50 anos, a taxa de crescimento da população caiu progressivamente, hoje em torno de 0,8% ao ano.

Na década passada a força de trabalho cresceu acima do avanço da população devido ao aumento da taxa de participação, induzida pela expansão do nível de emprego. Embora a recessão de 2014 à 2016 tenha crescido a taxa de desemprego, não podemos mais contar com um aumento significativo da taxa de participação nos próximos 15 anos, dado que a mesma já se encontra num patamar elevado. Assim, o crescimento da força de trabalho deve contribuir com, no máximo, 1 ponto porcentual para o crescimento do PIB nos próximos anos.

E o que dizer da taxa de crescimento da produtividade? Economistas ortodoxos acreditam que a produtividade é algo que não tem nada que ver com a acumulação de capital ou com a composição intersetorial da produção e do emprego, dependendo só de instituições (grau de abertura da economia e grau de observância ao império da lei) e do estoque de capital humano. Dessa forma, a receita ortodoxa para acelerar a produtividade é fazer a abertura indiscriminada e unilateral da economia, junto com o aumento do investimento em educação básica e fundamental.

Em artigo publicado em 2013, o economista Dani Rodrik, da Universidade de Harvard, mostrou que a estratégia de desenvolvimento baseada na melhoria de instituições e da acumulação de capital humano é relativamente pouco eficaz como fonte de aumento da produtividade. Os países que experimentaram surtos de crescimento econômico acelerado foram os que conseguiram transferir mão-de-obra de setores tradicionais para a indústria de transformação. Esse processo permite o aumento mais rápido da produtividade do trabalho.

Ou seja, os campeões de crescimento foram os países que se industrializaram mais rápido. Para impedir a “desindustrialização precoce”, Rodrik constata que a industrialização deve se basear na conquista de mercados externos, ao invés da substituição de importações. Assim, a política macroeconômica torna-se pilar fundamental do desenvolvimento econômico ao ter como meta obter superávits em conta corrente do balanço de pagamentos.

joreirocosta@yahoo.com.br

Professor do Departamento de Economia da UNB

Link do artigo: http://www.dci.com.br/opiniao/o-motor-do-crescimento-id667792.html

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